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Abuso contra menores: Será que somente “pedir desculpas” é suficiente?

Até quando nossas crianças terão sua sexualidade desrespeitada? Até quando serão abusadas, serão caladas, serão enganadas. Atos praticados dentro da própria família, que é quem deferia proteger a criança. Esses e outros tópicos são abordados pela sexóloga Juliana Graça na coluna de hoje

14/04/2023 às 10h59 Atualizada em 14/04/2023 às 11h48
Por: Redação ES 24 HORAS
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Foto: Creative commons
Foto: Creative commons

Essa semana um vídeo viralizou nas redes sociais. Um líder espiritual de 87 anos, Dalai Lama, beijou um menino na boca e ainda pediu que o garoto chupasse sua língua, isso porque a criança perguntou se poderia abraçá-lo.

Depois da repercussão negativa, ele se desculpou e chamou o ato de “inocente e brincalhão”.

A criança foi exposta a um ato que não é do repertório da sexualidade da criança, beijo de língua, e muitas vezes a criança nem sabe que foi abusada, pois não foi orientada.

Não se pode fazer o que quiser e colocar na conta da cultura. Sabemos existem hábitos culturais diferentes em cada país, e isso também ocorre quando falamos de sexualidade.

Mas será que um adulto pode se apossar do corpo de uma criança e fazer o que bem entende em nome da cultura?

“Ah, mas esse caso não foi aqui no Brasil, eu não tenho nada com isso!”. Será mesmo? E os milhares de casos de abuso registrados em nosso país.  Padrasto propunha troca de comida por sexo para estuprar enteada em Belo Horizonte (a enteada, de 19 anos, tinha transtorno do espectro autista) e este caso também ocorreu essa semana.

Até quando?

Até quando nossas crianças terão sua sexualidade desrespeitada? Até quando serão abusadas, serão caladas, serão enganadas. Atos praticados dentro da própria família, que é quem deferia proteger a criança. 

Os abusos estão presentes na família, na sociedade, na escola e na religião. 

Por isso devemos orientar nossas crianças sobre o que se pode ou não fazer, e sobre quem pode ou não fazer. Devemos evitar deixar crianças irem a banheiro sozinhas, ficar em local reservado. Achamos que nunca pode acontecer com uma criança perto de nós, mas não espere  acontecer, oriente as crianças próximas a você.

Precisamos ensinar aos pequenos os limites que adultos, qualquer adulto, possa ter sobre ela. Infelizmente, nos dias atuais não podemos deixá-las confiar plenamente nos adultos.

Não podemos permitir, e nem aceitar, que alguns adultos tratem as crianças como se fossem objetos para atender suas necessidades. Crianças são ingênuas. É assustador o número de pessoas na fase adulta que enfrentam crises de ansiedade e depressão onde a origem foi um abuso sexual.

Cada vez mais temos adultos com doenças mentais, uma pandemia, e muitas estão atreladas a esses abusos na infância.

Devemos lembrar que não temos somente o abuso físico, o estupro em si, temos outros tipos de abuso contra crianças e adolescentes. Vamos listar alguns:

- Abuso sexual de crianças e adolescentes com contato físico

São os atos físicos que incluem toques nos órgãos genitais, tentativas de relações sexuais, masturbação, sexo oral e/ou penetração. Eles podem ser legalmente tipificados em: atentado violento ao pudor, corrupção de menores, sedução e estupro. Também é importante destacar que, contato físicos “forçados”, como beijos e toques em outras partes do corpo, podem ser considerados abuso sexual.

- Abuso sexual de crianças e adolescentes sem contato físico

Ainda que não envolva qualquer contato físico, o abuso sexual de crianças e adolescentes ainda é uma grave violação de direitos humanos, que deve ser denunciada às autoridades e pode trazer grandes traumas emocionais e psicológicos para as vítimas; Entenda cada um dos tipos de abuso sexual de crianças e adolescentes que não envolvem ‘toques’:

● Assédio sexual 

O assédio sexual, que pode ser expresso em forma verbal, não verbal ou física, é todo o comportamento indesejado de caráter sexual. Baseia-se, na maioria das vezes, na posição de poder do agente sobre a vítima, que é chantageada e ameaçada pelo agressor.

● Abuso sexual verbal

O abuso sexual verbal pode ser definido por conversas abertas sobre atividades sexuais – falas erotizadas - destinadas a despertar o interesse da criança ou do adolescente ou a chocá-los. Um exemplo do abuso sexual verbal são os telefonemas obscenos.

● Exibicionismo e Voyeurismo

O exibicionismo é o ato de mostrar os órgãos genitais ou se masturbar em frente a crianças ou adolescentes ou dentro do campo de visão deles. Já o voyeurismo pode ser explicado como o ato de observar fixamente atos sexuais ou órgãos genitais de outras pessoas quando elas não desejam ser vistas, obtendo satisfação sexual com essa prática. 

• Exibição de material pornográfico

Geralmente, a pornografia é classificada como uma forma de exploração sexual de crianças e adolescentes, já que o objetivo dessa violência é a obtenção de lucro financeiro para o agressor ou de abuso sexual com contato físico. No entanto, quando o agressor exibe materiais pornográficos a meninas e meninos e os obriga a assistir, é uma forma de abuso sexual sem contato físico.

Consequências do abuso sexual para crianças e adolescentes

Antes de tudo, é importante ressaltar que a violência sexual não produz o mesmo resultado sobre todas as crianças e adolescentes submetidos a ela. Além de cada criança ou adolescente reagirem de forma diferente a situações de abuso sexual, há também muitos fatores externos que moldarão o impacto que essa violência terá na vida da vítima no futuro. Alguns deles são: a duração do abuso; o grau de violência; o grau de proximidade entre o agressor e a criança, o grau de sigilo sobre o fato ocorrido e a existência e eficiência do atendimento da rede de proteção à criança e do adolescente.

Sinais de abuso sexual a curto prazo

Além de marcas físicas como lesões, hematomas e doenças sexualmente transmissíveis, é importante notar alguns sinais de que uma criança ou adolescente pode estar sendo vítima de abuso sexual: mudanças bruscas de comportamento em explicação aparente; mudanças súbitas de humor; sonolência excessiva; perda ou excesso de apetite; baixa autoestima e isolamento social; evasão escolar; medo de escuro ou de ficar sozinho, entre muitos outros sinais de alerta.

Também é essencial destacar que a existência de um ou mais sinais nem sempre indica que uma criança ou adolescente sofreu abuso sexual.

Consequências a longo prazo do abuso sexual na infância e adolescência

Sequelas dos problemas físicos gerados pela violência sexual. Lesões, hematomas e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) podem interferir na capacidade reprodutiva, podendo levar, em casos mais graves a uma maior morbidade materna e fetal.

Dificuldade de ligação afetiva e amorosa, devido a um profundo sentimento de desconfiança pelo ser humano em geral, por temor de reviver a experiência traumática ou por dissociação entre sexo e afeto, gerando sentimentos de baixa autoestima, culpa e depressão prolongada por medo da intimidade.

Dificuldades em manter uma vida sexual saudável. Aqui, as vítimas podem ter reações divergentes: podem evitar qualquer tipo de relacionamento sexual por traumas que bloqueiam o desejo; vivenciar baixa qualidade nas relações sexuais; desenvolver incapacidade de distinguir sexo do afeto; ter compulsivo interesse sexual para provar que são amadas e para se sentirem adequadas, entre outros comportamentos disfuncionais.

Dependência em substâncias lícitas e ilícitas. Importante ressaltar que não se deve fazer qualquer associação mecânica entre abuso sexual e uso de drogas. No entanto, há relatos de pessoas que confessaram ter usado drogas inicialmente para cuidar de sentimentos, esquecer a dor, a baixa autoestima e, mais tarde, o uso se tornou um vício.

É extremamente importante saber ouvir e acolher a criança ou adolescente que passou por alguma situação do abuso sexual.  Evitar reações extremas e perguntas inquisitórias; denunciar a suspeita às autoridades e buscar um atendimento médico e psicossocial humanizado para as vítimas. Em caso de qualquer suspeita de abuso sexual de crianças e adolescentes, denuncie!

Vamos proteger nossas crianças! A Nossa maior arma é a orientação, e a conversa com os pequeninos.

Juliana Graça, consultora em saúde e educação sexual, sexóloga e pós-graduada em terapia sexual na saúde e na educação
Instagram: www.instagram.com/julianangraca

 

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Sobre o blog/coluna
Meu nome é Juliana Graça, sou sexóloga, terapeuta sexual associada da ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual) e do CRESEX (Centro de Referência em Sexualidade) além de empreendedora da Juliana Graça Butique Íntima. Neste espaço vamos falar sobre autoestima, autoconhecimento, sexualidade, relacionamento, educação sexual, sexo, como apimentar a relação, prazer, orgasmo, produtos sensuais e brinquedos adultos, tabus, mitos, preconceitos e muito mais.
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