A democracia moderna é a forma de governo mais justa quando o objetivo é escolher um representante com base na decisão da maioria. Ao contrário do que já houve no passado de nosso país, onde a renda ou o gênero de uma pessoa era fator impeditivo do exercício de escolha, hoje o voto universal tem peso igual para homens e mulheres, jovens e idosos, sejam ricos ou não. E foi essa universalidade que levou 86% dos advogados capixabas a votarem nas eleições para presidente da OAB/ES no último dia 22.
Mas eleição sem estratégia é como navegar sem bússola. E nesse sentido, Neffa traçou a vitória de Erica como um verdadeiro capitão. E vamos ser honestos. O mar não estava calmo. Inicialmente, pelo menos três chapas enfrentariam um tsunami chamado Rizk Filho. Presidente da Ordem por dois mandatos consecutivos, sua reeleição parecia estar garantida. Com o apoio de setores importantes da advocacia, Rizk se erguia como um Golias.
Mas, como diz o ditado, quanto maior a altura, maior o tombo, Rizk acumulou uma série de críticas ao longo dos seus seis anos de mandato (o presidente de uma Subseção é eleito para um cargo de 3 anos). A falta de transparência na Ordem e a ausência de representatividade em momentos relevantes da vida capixaba foram muito citados por seus opositores, os advogados Ben Hur Farina, Erica Neves e Neffa Junior.
Mas Rizk tinha os números ao seu favor. Ao dividir o eleitorado por quatro, a matemática favorecia o presidente. Inclusive, pesquisas realizadas apontavam para este cenário. Em conversa com uma advogada de Linhares, a coluna ouviu que a diluição do eleitorado tornaria inevitável uma vitória de Rizk. A advogada estava certa.
Como os números não mentem, coube a Neffa, a 9 dias do pleito, anunciar uma tática que não apenas derrubaria Golias, mas transformaria o tsunami numa simples marola. A fusão das chapas de Neffa e Erica engrossou o eleitorado com a transferência dos votos de Neffa para Erica. O resultado da estratégia foi uma acachapante vitória de Erica Neves, que obteve 53,8% dos votos válidos contra 32,59% do poderoso Rizk Filho. Numa linguagem mais moderna, “foi uma lapada”.
Passado o momento de euforia pela vitória, agora é hora de montar o futuro da Ordem no Espírito Santo. E projetos não faltam. Enquanto Erica fala sobre oxigenar ideias e valorizar o papel da OAB/ES em questões sociais capixabas, caberá a Neffa, como tesoureiro, aplicar seu conhecimento em uma nova OAB/ES. Vale lembrar que Neffa Junior é o atual presidente da seccional da OAB de Vila Velha, o maior colégio eleitoral de advogados do Estado. Em conversa com a coluna, Neffa afirmou que a ideia é implementar tudo que deu certo na cidade canela-verde em todos os municípios capixabas.
E entre esses projetos estão a jovem mentoria, a implementação de um novo arcabouço fiscal além da criação de um novo portal da transparência, que hoje mais parece uma caixa preta (este colunista tentou pesquisar alguns detalhes referentes às despesas da Ordem, mas ficou mais perdido que cupim em serralheria). Neffa garantiu que os advogados agora saberão exatamente onde o dinheiro da suada anuidade será aplicado.
O futuro tesoureiro acrescentou ainda que será implementado cursos de pós-graduação como já ocorre em Vila Velha, com um ensino de qualidade a preços acessíveis, informação já confirmada pela presidente Érica em entrevista ao portal A Gazeta.
Ao que tudo indica, a Primavera chegou à Ordem, e com novos ventos e novas lideranças, a advocacia voltará a ter papel fundamental na sociedade capixaba, seja por meio do fortalecimento dos conselhos, seja na participação de debates que impactam na vida do cidadão.
Fabricio Marvila é jornalista e colunista político.
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